sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pegada Hídrica

LUIS FELIPE - sexta, 23 março 2012

Você acredita que as informações da pegada hídrica irão influenciar nas decisões de consumo? De que forma?
Destaque os pontos mais relevantes da proposta da Pegada Hídrica e como este indicador poderá influenciar os setores produtivos (agricultura, indústria, serviços)?
Apresente o seus argumentos, questione e comente os argumentos dos seus colegas. Vamos debater via fórum durante a semana e faremos o fechamento na próxima aula.
Aguardo a manifestação de todos neste Fórum.
Abs
Felipe

Ismael - domingo, 25 março 2012

O conceito da pegada hídrica é muito interessante e se mostra como um grande aliado na preservação, orientação, planejamento e conscientização do consumo e uso da água.
As informações da pegada hídrica relativa a produtos, processos, consumidores, municípios, etc., vai sim, influenciar nas decisões de consumo e nas políticas públicas relacionadas com a preservação da água. Mas confesso que irá demorar um tempo ainda. Da mesma forma que produtos orgânicos, produtos não transgênicos, produtos produzidos sem abuso infantil, entre outras modalidades, precisam de um tempo para a assimilação da sociedade e sobretudo, quando o fator financeiro é decisivo numa opção de compra. Portanto, um produto com pegada hídrica menor que outro similar, mas com preço maior, não terá imediatamente melhores índices de venda.
O que eu vejo com a ideia da pegada hídrica é uma possível utilização desse indicador como existe com o crédito de carbono, ou seja, o crédito de pegada hídrica mostrando a redução do uso da água no seu produto, processo, município. Me parece muito interessante esta ideia, e se pegar pode vir a ajudar bastante na divulgação, conscientização e redução do uso da água.
Os pontos que mais me chamaram a atenção no texto são o processo e as etapas para a investigação, contabilização e estratégias da pegada hídrica, apesar de achar bastante complexo sua contabilização. Acredito que no Brasil, por ainda termos água abundante, se for baixado um decreto apontando a pegada hídrica mundial de vários produtos e uma meta mundial para atingir, pode ser que este indicador venha a influenciar os setores produtivos. Uma medida governamental seria fundamental para isso.
Aqui tem um site com os indicadores de pegada hídrica dos países. Bem legal.
http://www.oeco.com.br/images/stories/flash/interactive.swf
Abraços

Patrícia - domingo, 25 março 2012

Acredito que as informações da pegada hídrica possam influenciar decisões de consumo a partir de uma divulgação e conscientização do consumidor. Para isso creio que o envolvimento do setor público, unindo legislação e campanhas de divulgação é fundamental.
Creio que o mais relevante no conceito é a complexidade, no sentido de que possibilita cálculos considerando tempo, espaço, processos, ou seja, engloba realmente tudo o que envolve a produção, de semear um grão a servir no prato em um restaurante. Porém, essa complexidade também pode ser um complicador para a adoção da pegada. Por outro lado existe a possibilidade de se escolher até onde calcular, mas a indicação do WFN é que se considere as pegadas diretas e indiretas pelo fato de que as indiretas podem ser mais amplas.
Com relação a influenciar os setores produtivos, penso que pode provocar inovação através de tecnologia na busca de processos mais responsáveis de uso da água. No Brasil já temos uma empresa utilizando o método, o Grupo Marfrig. Vejam a notícia divulgada no site:
http://www.marfrig.com.br/imprensa/press-releases/template-release.asp?id={D2458D45-9DAD-431E-AF7B-C9951A09D2B0}
Concordo com o que o Ismael diz quando compara com o crédito de carbono, acho que poderia funcionar muito bem se a pegada fosse utilizada na mesma linha como ele sugere.

LUIS FELIPE - domingo, 25 março 2012

Olá Pessoal,
Gostaria de saber a opinião de vocês sobre alguns aspectos identificados pelo Ismael e pela Patricia. Por exemplo:
- O link apresentado pelo Ismael, mostra a pegada hídrica do Brasil como 1.381.000 litros por hab/ano - no que se refere à água utilizada para produzir, dentro e fora do país, todas as mercadorias e serviços consumidos. Me chamou a atenção que outros países possuem valores superiores, como por exemplo: Guyana (2.113.000 litros/hab/ano), Argentina (1.404.000), etc. O Uruguay nem aparece no mapa. Qual seria a explicação para estes dados? Analisem os dados do site e façam seus comentários.
- O link apresentado pela Patricia mostra que o futuro já chegou! A Marfrig vai fazer o que nós dizíamos que poderia acontecer no futuro. A segunda questão é: Estas informações serão valorizadas pelos clientes? Os dados da pegada hídrica (e a provável eficiência obtida com suas iniciativas) representará um diferencial competitivo?
A discussão segue, até quinta podemos evoluir muito, participe deste debate.
Abs

Ana Paula - segunda, 26 março 2012

A pegada hídrica é um indicador multidimensional que calcula o consumo de água direta e indireta nem produtos e serviços. Dessa maneira, poderá reduzir o desperdício de água não somente durante o processo produtivo, mas ao longo da cadeia de suprimentos. Empresas brasileiras já procuram adotar boas práticas de governança de água, como, por exemplo, a Natura.
Acredito que a pegada hídrica poderá influenciar consumidores no processo de compra. Entretanto, concordo com o Ismael, quando ele fala de um tempo para assimilação do conceito de pegada híbrida pelos consumidores. O próprio professor que conceituou a pegada híbrida afirma, em entrevista ao Estadão (
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-consumo-de-agua-escondido-nos-produtos,695894,0.htm), que as empresas ainda estão em uma fase exploratória do conceito. Penso que esse interesse demonstra que as empresas estão dispostas a adotá-lo em seus processos.
Encontrei um site que fala de um evento que ocorreu em 2011, sobre Pegada Hídrica e sua aplicabilidade no poder público e privado. No site (
http://www.redevale.ita.br/swf/programacao.asp), eles disponibilizam os vídeos sobre as palestras. A Natura e a ANA (Associação Nacional de Águas) também compartilham suas experiências na boa governança da água.
No link (
http://www.youtube.com/watch?v=J8npPb2ORdA), mostra um vídeo de uma reportagem sobre a pegada. Achei interessante no vídeo quando se argumenta que a pegada hídrica ainda trabalha com médias globais - é preciso que cada média seja calculada de acordo com cada realidade.

Patrícia  - segunda, 26 março 2012

Ao analisar os dados do link apresentado pelo Ismael, penso que as diferenças nos valores podem ser devidas a fatores como estilo de vida e tipo de consumo. Como é explicado no vídeo que a Ana trouxe, se usa mais água para fazer uma xícara de café do que uma de chá; além disso, concordo com o que a Ana falou também sobre cálculos a partir da realidade local e isso é outro fator que poderia explicar essas diferenças: se o país não produz, mas importa, vai ter em sua pegada o uso da água dos outros países. E então eu pergunto: essa conta é feita? Ou seja, o que o Brasil produziu para exportar está na pegada dele e também na de quem compra? Ou só conta o que foi consumido dentro do país?
Quanto a diferencial competitivo para empresas que adotem a pegada, creio que é possível pensar que sim. Vendo as empresas de que já falamos, a Marfrig, a Natura que a Ana mencionou e acrescento ainda a Ambev, que criou um movimento para consumo responsável (vejam no site:
http://www.movimentocyan.com.br/home/o-movimento-cyan/o-que-e?tema=1108 ), podemos encontrar um importante ponto em comum entre elas. Todas possuem capital aberto, e mesmo que nesse primeiro momento o consumidor dos produtos ainda não esteja familiarizado ou até desconheça o conceito de pegada hídrica, o mercado de ações funciona de outra forma. Há carteiras de títulos que só consideram ações de empresas com práticas concretas para sustentabilidade. Há bancos que consideram responsabilidade social e ambiental para análise de crédito. Penso que isso também é foco dessas empresas, pois necessitam captar recursos para seguirem se desenvolvendo e investindo em tecnologia.

Ismael - segunda, 26 março 2012

Analisado o mapa mundi com os dados da pegada hídrica, consumo doméstico, uso para agricultura, industrial (por país), é difícil traçar uma tendência ou explicação, porque é muito variado e sem padrão. Nota-se que boa parte dos países da Europa tem pegada maior que a do Brasil.
Se formos clicando nos botões no canto superior esquerdo podemos perceber que o uso da água na agricultura é absurdamente grande na maioria dos países, agora o uso para consumo doméstico  e para a produção industrial, é bem maior na Europa e EUA que na África, por exemplo.
Seria interessante traçar um estudo mais aprofundado para verificar estas informações e traçar uma resposta, que na minha opinião, chegaria a conclusão de que países que possuem mais água gastam mais, países essencialmente agrícolas gastam mais também, enfim, um grande campo para pesquisas futuras.
O Chile é um caso excepcional, que merece atenção e estudo para verificar o seu nível tão baixo, e se for devido a políticas públicas ou outro fator, que sirva de benchmarking para outras nações.
Abs

Uiara - segunda, 26 março 2012

Olá pessoal,
A efetiva aplicação da pegada hídrica pode contribuir muito para a gestão dos recursos hídricos em todo o mundo. Os setores produtivos teriam um grande desafio pela frente para realizar esse mapeamento, pois a análise ao longo da cadeia precisa ser bem rigorosa, visto que a pegada hídrica indireta é geralmente muito maior que a direta.
A realização de medidas necessárias para reduzir o uso da água também demandaria grandes investimentos por parte dos setores produtivos. Nesse sentido, pode-se ver uma oportunidade para as organizações que de fato realizarem investimentos em favor da transparência e da redução no uso da água doce.  Além disso, formular metas específicas e mensuráveis com relação à redução da pegada hídrica, com atenção especial às áreas onde os problemas de escassez de água e poluição são os mais críticos, pode ser transformada em uma vantagem competitiva, frente aos concorrentes. Pois, percebe-se uma tendência no consumo de alguns produtos que apresentam selos e certificados que atestam algum benefício socioambiental. Mas não vamos nos iludir, como já dizia um professor que tive na graduação: "administração não é um romance". As empresas só investirão na pegada hídrica se perceberem algum retorno (imagem, marca, adaptação legal, redução de custos, nicho de mercado, incentivos fiscais...). Assim como, se o custo da avaliação e gestão da pegada hídrica for repassado ao consumidor, os produtos também não serão tão bem aceitos quanto um produto mais barato.
Isso em se tratando da aquisição de produtos, mas se nos referirmos à alimentação, principalmente ao consumo de carne, vamos mexer com um assunto mais delicado.
Se eu falar pro meu pai não fazer o churrasquinho dele no domingo porque 1 kg de carne de gado gasta 15 mil litros de água ele vai dizer: E daí? Então esse assunto vai demandar muitos anos de conscientização, que talvez não chegue a lugar algum.
Logo, uma das vias poderia ser a intervenção do governo na atividade produtiva, conforme o colega Ismael colocou.
Penso que uma das possíveis razões da pegada de água da Argentina e Guiana ser maiores que do Brasil é a grande representatividade das atividades relacionadas a agricultura nesses países. Não que no Brasil esse setor não seja grande, mas temos uma população muito maior e mais indústrias, o que reduziria o valor do indicador.

Alan - segunda, 26 março 2012

Olá pessoal. Bem interessantes as respostas. Não sei se ajudarei ou atrapalharei, mas vamos lá...
As informações da pegada hídrica podem sim influenciar nas decisões de consumo, mas de um futuro um tanto distante até mesmo para países atualmente desenvolvidos. A consciência ambiental das pessoas é cada vez maior, mas para uma pequena parte da população. Para grande parte dela, que sofre com o abandono do poder público (leia-se população no geral), não faz diferença alguma. Pouquíssimas pessoas pagam sequer 10, 15% a mais em um produto apenas porque ele é ambientalmente correto. Isso é fato.
Porém, acredito que seria possível a municipalidade adotar o indicador como forma de educar e conscientizar a população sobre o uso correto da água. De certa forma, ao menos para quem entender e se preocupar com isso, pode ser que leve para o seu lugar de trabalho e sugira alguma transformação verdadeira nos modos de consumo. Infelizmente, eu conheço exemplos de empresas que dizem tomar atitudes ditas “ambientalmente corretas” toda a hora, mas aplica porque terá algum retorno financeiro direto e aproveita o falatório ambiental ou porque existe pressão por parte de órgãos ambientais mesmo. Por isso a intervenção do governo como comentado pelos colegas me parece ser uma boa maneira. Afinal, uma indústria SEMPRE irá buscar lucro, enquanto que um governo democrático deveria se preocupar em manter o sistema sempre girando com pensamento na qualidade de vida das PESSOAS.
Um dos pontos que parece ser bastante relevante na proposta é que ao traçar a pegada hídrica de um determinado produto, passa-se a conhecê-lo melhor. Isso significa que o processo produtivo deixa de ser uma “caixa-preta” e fica de certo modo, disponível para todos que quiserem buscar informações sobre o produto, dando rastreabilidade e transparência. Essa informação é importante para quem realmente se interessa por um determinado produto, principalmente se ele for exclusivo. Esse tipo de público é bastante atual, apesar de ainda ser minoria. De certa forma, esse público que busca informações detalhadas sobre o processo acaba se sentindo mais confiante quando recebe por parte de uma indústria essa atenção maior e a esta estará garantida uma boa propaganda para o negócio. Nesse caso, todo o setor produtivo passa a ser influenciado por um indicador que antes só buscava informações sobre o uso da água no processo. Obviamente, é difícil alguém se interessar pela cadeia produtiva de “1 kg de maminha”, mas cabe a cada um de nós darmos uma espiadela no rótulo para verificar a procedência e determinar se a empresa toma alguma atitude ou não com relação ao meio ambiente. Se é real essa atitude, não saberemos, mas ao menos os gestores da empresa sabem que existem consumidores preocupados com isso.

Alan Ambrosi - segunda, 26 março 2012

Ah, com relação aos indicadores dos países como Argentina e Guiana acredito que não seja de se estranhar. São países como a Uiara comentou que têm na agricultura a maior atividade econômica e não são países conhecidos por terem um bom comportamento ambiental (ao menos eu não me lembro de nada no momento). Na Guiana, ainda tem a mineração que justifica um alto valor de pegada hídrica, afinal o uso da água nessa atividade é realmente grande e nem encontrei dados para ela.
Tem o site oficial da pegada hídrica no qual a gente pode calcular a nossa pegada hídrica. Se alguém quiser se arriscar a calcular...
http://www.waterfootprint.org/?page=files/WaterFootprintLogo
Abraço!

Ana Paula - segunda, 26 março 2012

Não sei se a pegada hídrica possibilita que se conheça melhor algum produto. Acredito que ela permite que se conheça e se monitore o consumo de água ao longo de sua cadeia. Pode trazer transparência, mas no sentido da água empregada diretamente e indiretamente na produção daquele produto ou na execução daquele serviço. Penso que as empresas irão divulgar as informações acerca da utilização da água naquele produto, bem como as boas práticas de governança da água adotadas por elas.
Concordo que a pegada hídrica deve ser utilizada como maneira de conscientização das pessoas sobre o uso correto da água e que o consumo da água não envolve somente o banho, a lavagem de roupa, a lavagem da louça... Preservar água não é simplesmente fechar a torneira quando se escova os dentes, está muito além disso - como podemos perceber com o conceito da pegada hídrica.
Abs,

Ana Paula - segunda, 26 março 2012

Alan, também encontrei uma imagem que fala sobre o cálculo da pegada hídrica para um 1 kg de carne bovina. Mando em anexo!



Minelle - segunda, 26 março 2012

Bem pessoal acho que do que até então foi falado, muito tem para ser discutido. A pegada hídrica, no meu ponto de vista, pode sim influenciar nas decisões de consumo por parte dos consumidores. E alguns aspectos já foram até comentados, por haver atuação do governo, mudança de comportamento de empresas e até ampliação da consciência dos consumidores.
Mas do que foi comentado, será que de fato a regulamentação seria a melhor opção? Concordo que vivemos em um contexto no qual isso é “o que funciona”, mas com relação à temática, acredito não ser essa a única opção, nem mesmo a fundamental.
Baseando-se em uma das falas da Patrícia, será que no processo de conscientização as empresas também não possuem esse papel? Tudo ainda é muito incipiente, mas como o Felipe comentou anteriormente porque não acreditar que o futuro já chegou? Nem todos os atores sociais estão se movimentando, mas aos poucos podemos ir percebendo isso.
O que não podemos considerar na nossa discussão é a ideia de alinhar a pegada hídrica com o mercado de carbono, não estamos discutindo criação de nicho de mercado, buscamos mudanças de comportamento, de atuação! Se pensarmos estrategicamente nem SEMPRE o lucro pode ser o objetivo final, até porque lidamos com todos os tipos de organizações que podem estar atuando, dentre as quais as não governamentais que podem contribuir positivamente com esse contexto de mudança. E no caso de organizações privadas, tem a questão da imagem corporativa, cultura cidadã, dentre outros aspectos.
A Ana comentou algo bem interessante, na discussão das pegadas (hídrica ou a ecológica que virá em discussão mais adiante) não podemos comparar muito as regiões, existem especificidades que tornam aquele local único, o que creio que isso impacta na forma de ver o fenômeno. Se trabalharmos com a ideia de pegada hídrica de forma alinhada com a ideia do relatório, no sentido de buscar mostrar os impactos e estimular mudanças de diversas partes ai sim acredito que essa metodologia contribui positivamente para uma mudança.
Abs

SABRINA - terça, 27 março 2012

Concordo com os colegas que colocaram que a pegada hídrica pode, sim, influenciar o consumo. Mas não sei se tenho uma visão equivocada das empresas e das pessoas, mas grande parte delas só agem se perceberem que estão ganhando com isso. É difícil essa conscientização de que precisamos cuidar do planeta hoje para que as próximas gerações não sofram (mais) com isso.
Apesar disso vemos outras instituições e grupos de pessoas muito motivados a cuidar dos recursos naturais e fazerem campanhas de preservação dos recursos hídricos.
Aqui na UFRGS possuímos uma tecnologia que foi patenteada e que está licenciada e que serve para reaproveitamento de água da lavagem dos veículos. Empresas como Souza Cruz, Petrobrás, Metropolitana estão utilizando a tecnologia.
No site da empresa licenciada podemos entender melhor da tecnologia e ver empresas que já estão utilizando este sistema:
http://www.aquaflot.com.br/index/index

SABRINA - terça, 27 março 2012

É justamente isso que eu penso, Alan, que poucas pessoas estão conscientizadas da importância de preservar os recursos naturais, e muitas das que sabem das consequências não agem pela dificuldade ou o custo de modificar os hábitos.
Uma coisa muito interessante é colocar essas questões como obrigatórias nas escolas, começar o processo de conscientização desde cedo, tanto em escolas privadas quanto em escolas públicas. Os municípios precisam tomar atitudes para facilitar as ações das pessoas.
E justamente por que as empresas sempre vão buscar lucro é que precisa ser garantido que atitudes positivas em relação a preservação e utilização consciente tanto de água quanto dos demais recursos é preciso ser valorizado (embora devesse não ser mais que obrigação). É preciso que essas atitudes não sejam mais onerosas para as empresas.
Com os exemplos trazidos pelos colegas podemos perceber uma luz no fim do túnel, pois há sim empresas preocupadas com o futuro.

SABRINA - terça, 27 março 2012

Gente, segue em anexo um relatório do BNDES sobre índices com foco em sustentabilidade. Esse relatório fala sobre o índice de água (IH2O) e sobre a pegada hídrica nas empresas.
Tentei enviar o arquivo, mas tem mais de 500kb e não pode ser enviado por aqui, então segue o link:
www.cebri.com.br/midia/documentos/priscilacamachobak.pdf

Valeria - terça, 27 março 2012

Oi pessoal! Gostaria de comentar algumas coisas como contraponto. Li todos os comentários e, posso estar muito enganada, mas percebo que há dois aspectos que devemos considerar quando se fala em sustentabilidade e que se complementam: altruísmo e interesse. Eu diria que qualquer comportamento gerador de mudança ou mantenedor da situação atual é motivado por esses dois aspectos.
Quando falamos em sustentabilidade, nós, que estamos de fato engajados em ver um mundo melhor, mais humano, mais justo e mais coerente, menos usurpador dos recursos ambientais do planeta, podemos nos mover mais pelo fator altruísmo, pela crença de que é possível fazer diferente, do que pelo interesse em obter alguma vantagem. Vejo que nossa visão de mundo tende a ser mais humana, digamos assim.
Creio que devemos, porém, ter a consciência de que sob a ótica empresarial, é natural que o objetivo primeiro seja o lucro (obviamente que não a qualquer custo). Não estou, com essas afirmações, negando que muita coisa vem sendo feita, inclusive no meio empresarial, que é um grande propulsionador de iniciativas e modificador de padrões de comportamento da sociedade. Não estou dizendo, também, que devemos aceitar que seja assim, mesmo porque trabalho com esse tema há algum tempo e, se eu de fato não acreditasse nisso, já teria desistido. Estou dizendo apenas que qualquer decisão empresarial será tomada com base na estratégia que a empresa tem de se manter competitiva, na estratégia de se posicionar melhor no mercado, de "limpar sua imagem", de se aproximar do consumidor, de ter iniciativas que a vinculem com inovação e tecnologia, com modernidade etc. Não podemos negar que o que move majoritariamente as empresas é outro fator: o interesse. É claro que há empresas fazendo muitas ações concretas de sustentabilidade, mas o fator que as move é o interesse, que não necessariamente é apenas o econômico, pode ser de melhoria da imagem, por exemplo, como parece ser o caso da Natura. Tive a oportunidade de ter contato com um pequeno grupo de fornecedores de sementes para a Natura que disseram que a empresa havia descoberto sementes com características similares àquelas (não iguais, vejam bem) em regiões mais próximas de sua fábrica e que, em função da redução dos custos, a empresa havia optado em comprar essa matéria-prima similar. Isso invalida as ações da Natura? Penso que não, mas mostra como a estratégia da empresa será sempre ajustada de maneira a se manter competitiva no mercado.
Outro aspecto que gostaria de comentar é sobre um dos elementos levantados por nossa colega Patricia: o da sustentabilidade no mercado de capitais. A Bovespa tem um indicador que mede e acompanha o índice de sustentabilidade das empresas de capital aberto (ISE). O propósito desse indicador é medir o quanto a sustentabilidade gera de retorno financeiro ao acionista (de novo, aqui, o fator interesse). Na visão da Bovespa (veja em: http://www.bmfbovespa.com.br/novo-valor/pt-br/download/guia-de-sustentabilidade.pdf), a empresa deve investir em sustentabilidade porque obterá uma série de vantagens competitivas, como identificação de novas oportunidades de negócio (ou nichos de mercado, como bem disse nosso colega Minelle), antecipação de pressões legais e da sociedade, redução de custos, facilidade de acesso ao capital (empréstimos), menor exposição a riscos, impacto positivo na reputação (ativos intangíveis), fidelização de consumidores, melhor alinhamento interno às práticas e políticas adotadas. Vejam que a Bovespa não menciona que devemos investir em sustentabilidade para ter um mundo mais justo, menos depredador de nossos recursos ambientais e tal, apesar de abordar o conceito de eco eficiência, por exemplo, que diz buscar a utilização mais racional dos recursos. A linguagem da empresa é outra, é a da vantagem competitiva, a do interesse. Isso é ruim? Se não tiver como consequência uma mudança real de comportamento, sim. Se não causar nenhuma mudança na sociedade, sim, porque serão ações "vazias de sentido".
Logicamente, há outras iniciativas que não podem ser desconsideradas, como a da Economia Solidária e do Comércio Justo, que parecem estar mais alinhadas à temática da sustentabilidade no meio do empreendedorismo. Na sociedade, também, um movimento interessante é o do índice de Felicidade Interna Bruta - FIB, nascido no Butão. Isso, porém, geraria outro debate bem animado.
Escrevi demais! O que queria era apresentar uma reflexão sobre os dois aspectos que nos movem: altruísmo e interesse, e como podemos conciliá-los para realizar ações geradoras de externalidades positivas à sociedade e ao planeta. Abraços e bom dia a todos(as)!

Gabriele - terça, 27 março 2012

Acredito que o cálculo da pegada hídrica é de extrema importância para nos orientar o quanto um produto, um processo, um consumidor, uma cidade, enfim a unidade de análise que se quiser adotar, tem impacto sobre os recursos hídricos, uma ideia também sobre o impacto ambiental do que se está analisando. Entretanto, acho que não podemos nos esquecer de olhar o todo. Isso me lembra do caso polêmico dos combustíveis fosseis. O Brasil tem incentivado absurdamente a produção do álcool e me parece que o mundo inteiro acha que essa é uma alternativa “super sustentável” para a substituição do petróleo. Contudo, não parecem ser levados em consideração o fato de 90% da plantação estar sobre áreas de Mata Atlântica, de ainda haver a queima (mas parece que a partir desse ano já está proibida), e no século XXI, a cana ainda ser produzida através de regime muito próximo a escravidão.
Acredito que a ferramenta da pegada ecológica é de extrema importância. Entretanto, penso que devemos ser extremamente cuidadosos para não achar que pelo simples fato de um determinado produto ter diminuído a sua pegada hídrica ele passa a ser sustentável. Mas, como já disse, acho que é um passo bastante importante para a divulgação de um maior número de informações, para que cada vez mais o consumidor possa ter uma ideia geral do impacto do produto (ou qualquer que seja a unidade de análise). 

Ana Paula - terça, 27 março 2012

Também acredito que o fato de monitorar e controlar - bem como reduzir - a pegada hídrica de um produto/serviço não o faz ser sustentável. Conforme diz o Manual, o objetivo de avaliar a pegada hídrica é analisar como as atividades humanas ou produtos específicos dizem respeito a questões de escassez de água e poluição, e ver como atividades e produtos podem se tornar mais sustentáveis a partir de uma perspectiva da água. Como uma ferramenta, a avaliação da pegada hídrica não diz o que as pessoas/organizações devem fazer. Mais que isso, ela auxilia as pessoas/organizações a compreender o que deve ser feito.
Como a Gabi falou dos combustíveis, encontrei uma dissertação intitulada "Sustentabilidade, água virtual e pegada hídrica: um estudo exploratório no setor bioenergético". A dissertação é dividida em três artigos, no último artigo traça um comparativo entre as pegadas hídricas dos diferentes biocombustíveis produzidos (por exemplo, o país consumiu 14 km³ de água para produção de biodiesel e 52,8 km³ na produção de etanol). Para quem se interessar em dar uma olhada, a dissertação está no link (
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/32000/000784952.pdf?sequence=1).

RODRIGO - terça, 27 março 2012

Esse sistema de reuso é muito legal, tive a oportunidade de acompanhar seu desenvolvimento e, inclusive, envio um vídeo que pode ser útil para nossa disciplina (em função da tarefa criação de um vídeo final ) onde se apresenta o sistema.
http://ufrgsweb.ufrgs.br/node/227

Valeria - terça, 27 março 2012

Olá de novo!
Achei muito interessante a proposta metodológica da ferramenta da Pegada Hídrica, composta de quatro etapas: estabelecimento de metas e oportunidade (escopo), contabilização (mensuração) da pegada hídrica, avaliação da sustentabilidade da pegada hídrica, formulação de respostas à pegada hídrica. Como é uma ferramenta que se ajusta à necessidade de quem a usa, possibilita diversas combinações. Por exemplo: posso querer avaliar apenas o grau de sustentabilidade da pegada hídrica e deixar para tratar das alternativas à melhoria do coeficiente de sustentabilidade posteriormente, em conjunto com outros interessados. Além de tornar a ferramenta mais "amigável", possibilita uma adequação de uso de acordo a diversas realidades e necessidades.
A ideia de dividir a pegada hídrica em três tipos também é muito interessante, pois permite que se identifique onde se tem que agir mais rapidamente ou, pelo menos, onde a pegada hídrica é menos sustentável. A pegada verde considera o volume de água pluvial evaporada ou incorporada no produto, a azul, é calculada sobre o volume de água superficial ou do solo que também foi evaporada ou incorporada no produto, e a cinza, considera o volume de água doce que foi poluída para a produção.
Creio, assim como outros colegas, que a Pegada Hídrica pode sim ajudar a conscientizar a sociedade, o poder público e o mercado quanto à necessidade de preservar esse poderoso recurso. Porém, qualquer ação só será efetiva se feita em conjunto. De nada adianta termos políticas públicas de apoio à preservação de nossos mananciais se a população e as empresas não estão conscientes de que também são parte do problema, e da solução. Quanto à sociedade, a incorporação do tema na educação infantil e no ensino médio pode ajudar a trazer uma nova mentalidade em um futuro próximo.
A respeito da decisão de consumo, tenho dúvidas se, isoladamente, esse indicador será relevante, pois há muitos outros fatores que o consumidor coloca em primeiro plano no momento em que opta por um produto ou serviço. De novo, se não houver uma conscientização para a problemática dos recursos hídricos, nenhuma ação isolada será efetiva.
Quem quiser avaliar sua Pegada Hídrica individual, poderá fazê-lo no site da Water Footprint, em
http://www.waterfootprint.org/?page=cal/WaterFootprintCalculator.
Eu não resisti e medi a minha, tendo por base a média do brasileiro é de 1.381 m3 por ano. É interessante saber onde concentramos maior consumo de água.
Abraços!

Valeria - terça, 27 março 2012

A leitura do documento remete à questão dos vazamentos de óleo, como o da Chevron, na Bacia de Campos.
Como considerar o impacto disso na Pegada Hídrica de produtos gerados pela empresa responsável pelo vazamento?
Como medir o prejuízo ambiental de fatos como esses?

RODRIGO - terça, 27 março 2012

Olá
Considero importante a quantificação de consumo de água para produção de qualquer bem ou insumo. Dessa forma, a pegada hídrica vem fornecer dados quantitativos muito valiosos.
Apesar disso, considero que a maior contribuição do uso de um parâmetro como esse está na criação de políticas e ações para gerenciamento dos recursos hídricos. A água é uma fonte única (sua bacia hidrológica) e tem infinitas demandas (agricultura, indústria, navegação...), Dessa forma, a pergunta chave é "Como alocar esse recurso entre seus usuários (garantindo a manutenção dos ecossistemas aquáticos)?" Para isso deve se considerar os conflitos, priorizações, interesses.
Como ferramenta de auxílio à tomada de decisões a pegada hídrica fornece subsídios numéricos para sistemas que fazem mal uso, ou que apresentam  ineficiência de aproveitamento do recurso hídrico. Através do valor da pegada hídrica, pode-se gerir a maneira com que a água será alocada dentro de uma nação. Podem ser criadas políticas de outorga para o uso de água ( exemplo do estado do Paraná:
http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10 ); exigência de reciclo de água em indústrias; desenvolvimento de culturas agrícolas menos dependentes de água, etc.
Acredito também no "mercado ambiental" através da rotulagem de produtos eco eficientes, mas acho que o nicho de mercado que ele atinge é pouco representativo (com tendências de crescimento ao longo do tempo).
Contudo, considero a pegada hídrica muito mais importante para o planejamento estratégico do que para criação de um "mercado ambiental".

Minelle - terça, 27 março 2012

A observação das discussões nos levam a perceber que são as mudanças almejadas e desejadas, todavia devemos observar dentro do contexto da pegada hídrica como o Felipe apresentou na última aula, que o maior gasto de água vem da produção de alimentos, seguido da produção industrial, e acredito eu que esse é o ponto chave para a redução do impacto sobre esse recurso natural. O que devemos discutir dentro da visão da gestão é quais os primeiros passos a serem dados, vamos esperar uma regulamentação, vamos tentar ser proativos e como a Valéria comentou agir pelo interesse e buscar vantagem competitiva ou vou assumir meu papel de responsabilidade na sociedade. Nesse sentido, acredito que buscar trabalhar com a ideia de eco eficiência seria uma das melhores alternativa iniciais considerando a ideia de reuso (como comentou o rodrigo), reutilização, etc. Então a medida que começo um processo de gerenciamento desse e de outros recursos naturais dentro da minha organização, considerando o contexto local eu volto aquela questão de que a pegada hídrica direciona os atores sociais na busca pela mudança, à medida que indica seu impacto sobre o ambiente e pode lhe abrir o entendimento sobre sua orientação social.
Quanto a questão da utilização em mercado de capitais novamente discordo dessa ideia considerando que não queremos criar (ao menos quem busca uma mudança como comentou a Valéria) nicho de mercado aumento o pensamento de troca capitalista, mas reestruturar a maneira como se observam as práticas na sociedade.
Abs

RODRIGO - terça, 27 março 2012

Também acho que um mercado desses não é sadio, uma vez que transfere geograficamente problemas que necessitam ser tratados "in situ". Por exemplo, se eu consumir toda água de um rio aqui do Rio Grande do Sul para irrigar minha lavoura, eu poderia comprar algumas cotas de um projeto de conservação do rio Amazonas e ponto, seria visto como ambientalmente correto. Apesar disso, de pouco importa a minha ação no Rio Amazonas se o problema que eu causei foi aqui no RS e os impactos ficaram acumulados por aqui.
Fazendo referência ao mercado dos créditos de carbono,  seguem o mesmo princípio...

Fernando - terça, 27 março 2012

De fato o conceito pode representar um avanço significativo na gestão dos recursos hídricos por parte dos governos, produtores e consumidores.
Mas acredito que ainda haja um longo caminho a percorrer até o "consumidor médio" orientar suas decisões de consumo quanto ao conceito de pegada hídrica. Penso que, assim como os demais conceitos de impacto ambiental, causam espanto nas pessoas quando revelados, porém exercem pouca influência no comportamento consumidor.
: )

Ana Paula - quarta, 28 março 2012

Concordo com o pessoal de que o "crédito hídrico" não seria o melhor modo de aplicar a pegada hídrica nas organizações (como também questiono os créditos de carbono). Dessa maneira, não é preciso reduzir a pegada hídrica do produto/serviço - existe a alternativa de se adquirir créditos de outros locais. Além disso, a ideia de atribuir um valor, de mensurar quanto custaria cada litro de consumo de água (ou seja, trazer o consumo da água para a linguagem do capital) me parece muito complexo. Se a ideia é que cada lugar tenha sua própria média conforme cada realidade, penso que não dá para se basear em uma média global.

Minelle - quarta, 28 março 2012

Baseando no que Ana falou de fato apresenta-se meio complexo a questão da mensuração, isso com relação a apenas um recurso natural, a água, imagina com relação a impacto ambiental grande como o da Bacia de Campos como levantou a Valéria ou a questão dos combustíveis fósseis que a Gabi também indicou. Toda essa nossa discussão, creio eu, que nos abre a mente para vertentes que antes não pensávamos e ajuda pensar um pouco mais sobre a questão do consumo (em diferentes âmbitos, seja individual ou coletivo). Devemos ir ampliando a nossa visão, e por que não imaginando que não está tão longe assim!!!

Valeria - quarta, 28 março 2012

Estou de acordo com o que Rodrigo, a Ana e o Minelle disseram. Não dá para tratar a questão da água de maneira simplista, como parece estar sendo feito com a política dos créditos de carbono. Ajuda a amenizar o problema obrigar as empresas a comprar parte do carbono que consomem? Talvez, mas não trata a causa e muito menos traz mudança de comportamento, que é, no fim das contas, o que realmente traz uma transformação duradoura.
Ajudaria se fosse inventado o "crédito hídrico" (como a Ana comentou)? Mesmo que traduzindo o problema na linguagem do capitalista, o que pode facilitar a aproximação com o empresário, não vejo como o "crédito hídrico" possa gerar mudança de comportamento. E aí concordo com todos (Rodrigo, Ana e Minelle). Além do cálculo ser complexo, pouco efetivo seria. O problema só seria "mascarado" ou transferido de lugar. Sempre tenho a sensação, com esse tipo de política (a da compensação por "créditos") de que permanece o pensamento "Posso fazer o que quiser, poluir o quanto quiser que depois basta comprar uns créditos em algum lugar do planeta e serei "absolvido"". Não sei se é uma visão pessimista ou não, mas a política compensatória não me parece ajudar nos problemas locais. Se eu, capitalista, gero um dano ambiental aqui, tenho que tratar disso, ou melhor, tratar de evitar que isso ocorra novamente, por meio do uso de tecnologias mais limpas de produção. Os problemas locais são globais, mas são, primeiramente, locais, têm que ser resolvidos atendendo à realidade de cada território.
Quanto ao consumidor, essa linguagem dos créditos de carbono ou hídricos (se fosse o caso) está muito distante do cotidiano do consumidor-médio, pois é muito complexa. Não vejo como isso possa alterar algum padrão de consumo, pelo menos não no curto e médio prazos.
De novo, ressalto a necessidade de se ter ações conjuntas para gerar transformações profundas e duradouras.

Fernando - quarta, 28 março 2012

Sobre créditos de carbono como analogia à questão da água, uma análise ilustrativa:
http://www.youtube.com/watch?v=IPS5jTwo1Tk
: )

Gabriele - quarta, 28 março 2012

Fiquei pensando muito na questão da agricultura, que é responsável por quase 70% do uso de água. Mas da maneira como a agricultura (maior parte) é realizada hoje, de modo intensivo, a partir do cultivo de monoculturas, com agrotóxicos e fertilizantes, não consigo imaginar como conseguiríamos diminuir a pegada hídrica, nem os outros impactos ambientais causados por essa forma de produzir. Entretanto, existem muitas alternativas. A aplicação dos conceitos da permacultura e dos sistemas agroflorestais tem mostrado que podemos ser muito mais sustentáveis. Em um sistema agroflorestal por exemplo, o ecossistema original se modifica muito pouco, o cultivo é feito de maneira bastante diversificada e em conjunto com espécies nativas. São plantadas espécies da região, que necessitam de pouca ou nenhuma irrigação. Por ser um sistema biodiverso, não há a proliferação de uma única espécie (pragas), além de espécies nativas de plantas e animais coexistirem com as espécies cultivadas. Com isso, não há a necessidade de uso de agrotóxicos, ou seja, não há contaminação dos corpos d'água. Por ser muito semelhante ao ecossistema original, também não há necessidade de fertilizantes, pois o próprio sistema gera matéria orgânica fértil (folhas e troncos caídos por exemplo), além de se eliminar quase que totalmente o risco de erosão. Com a aplicação de técnicas da permacultura pode haver um aproveitamento de muitos materiais, bem como da própria água da chuva por exemplo. Bom, quem se interessar por isso encontrei um pdf sobre os conceitos básicos da permacultura que foi apoiado pelo ministério da agricultura do Maranhão.
http://ieham.org/html/docs/conceitos_basicos_permacultura.pdf
Abs

Patrícia - quarta, 28 março 2012

Creio que a Valéria tocou no ponto fundamental: altruísmo e interesse. Concordo com todos que citaram que há necessidade de mudança e que se tentarmos qualquer ação mantendo o pensamento capitalista podemos acabar não resolvendo efetivamente os problemas. O que eu questiono é quais as maneiras efetivas de se mudar a consciência que é essencialmente capitalista sem tocar no "interesse". O que move o mercado? O que move as pessoas? O que realmente faz com que mudanças ocorram?
Eu, particularmente, prefiro acreditar que o ser humano pode sim pensar mais no coletivo, acredito no comércio justo, na economia solidária, na cooperação. Mas parece que como disse a Valéria, não somos maioria. Me lembro de uma palestra que assisti em 2008 sobre cooperação em turismo, quando participava da instância de governança regional da Região das Hortênsias. A palestrante, Tânia Zapata, disse ao final que a maioria não entenderia o valor que a cooperação poderia trazer para a região "mas se dois entenderem, comecem com dois". Acredito nisso, que os movimentos podem surgir pequenos e com o tempo fazer muita diferença, mas ao mesmo tempo percebo que, infelizmente, essa diferença e ampliação só acontece quando quem está de fora do movimento percebe alguma "vantagem" (interesse) concreta. Alguém comentou em nossa aula de quinta passada sobre o capitalismo estar condenado. Acredito que está, mas ainda não sucumbiu, então o desafio é mostrar valor quando existe necessidade de disseminar um conceito para gerar mudança de comportamento.
Mudando o enfoque, achei super interessante o que a Gabi trouxe sobre permacultura, mostra que a natureza nos apresenta as melhores e mais simples, menos custosas alternativas. Me remeteu a apresentação do Felipe mostrando que tudo ia bem até que surgiu o ser humano...
Por fim, ontem eu assisti banca da dissertação de mestrado em economia de uma amiga na PUC, ela fez um estudo de como a adoção de práticas de governança corporativa afetava o valor das ações negociadas na BOVESPA. Não pude deixar de pensar em que resultados seriam encontrados se ao invés de governança usasse as práticas de sustentabilidade. Pesquisei e não encontrei nada a respeito, além do que já havia sido comentado sobre os índices existentes. No link que incluo aqui vemos as empresas "candidatas" a estar no índice, entre elas Marfrig e Natura que citamos aqui. A Natura já é parte e a Marfrig apenas candidata.
http://www.bmfbovespa.com.br/indices/ResumoIndice.aspx?Indice=ISE&idioma=pt-br
Abraços

Ismael - quarta, 28 março 2012

Bom, interessantíssimos comentários de todos.
Algumas coisas foram consenso para quase todos em relação ao conceito de pegada hídrica e princípios de sustentabilidade.
- conscientização da sociedade
- comportamento individual
Verdade, são muito importante para a adoção dos processos de melhoria e as práticas de sustentabilidade que se pretendam adotar. Contudo, esses são aspectos complexos e demorados para surtirem efeito, pode levar gerações para que um conceito, uma ideia seja introjetada na cultura da sociedade e das pessoas individualmente. O começo parte da educação, portanto, que comecemos logo e com ensinamentos sábios e eficazes. Como? Um plano de educação ambiental precisa baixar nas Instituições de Ensino.
Como fui eu que larguei a ideia do "crédito hídrico", e gerou muitos comentários e desconformidade com a maioria, vou colocar mais alguns pontos.
Tenha plena consciência que não é a melhor solução e tão pouco convicção de que funcionaria, mas se fosse auxiliar na melhoria considerável dos indicadores de água no planeta, eu toparia na hora. Não é porque alguns que gastam mais e vão comprar de outros créditos, ou seja, não estão preocupados e conscientizados com o problema de água, é que a medida não seja boa, não podemos generalizar o comportamento de uma minoria em face de um avanço substancial. De novo, se assim fosse, não sei se daria certo. Uma possibilidade é verificar se o comércio de crédito de carbono reduziu a emissão de CO2, e se reduziu é porque a medida foi um ponto importante. ode não solucionar por completo o problema, e nem terá solução única para um problema como esses. Mas todas as medidas que venham a se somar, são bem vindas.
Outro ponto que discordo dos comentários é a colocação da culpa no lucro, no capitalismo e no interesse. Não sou devoto nem do capitalismo, nem do socialismo, etc. Mas com certeza o problema não é absolutamente por causa do lucro e nem do interesse, muito menos do capitalismo. Há sim, organizações ou pessoas que deturpam os conceitos e podem causar danos sociais.
Pelo contrário, podemos usar o interesse e o lucro das organizações para providenciar melhorias sociais, e existem organizações que fazem isso, existem empresas que surgiram, com os lucros do crédito de carbono só para criar soluções de redução de CO2, o interesse é o que move a sociedade e as organizações, não podemos ser hipócritas com isso, até porque o capitalismo não vai sucumbir tão cedo e o lucro sempre vai existir e deve existir porque só assim a sociedade funciona e a melhorias acontecem, não seríamos a sociedade que somos hoje sem essa lógica.
O que precisamos é encontrar uma forma de conciliar os interesses ambientais, econômicos e sociais, mas não bater de frente. É complicado mudar, sim, bastante, mas vejo essa a melhor maneira de melhorarmos a situação. Acredito que por sinergia entre organizações, sociedade e interesses diversos podemos melhor a situação.

Marcio - quinta, 29 março 2012

"Boi lerdo bebe água suja" diz o ditado, mas de qualquer maneira seguem meus dois centavos para o debate =)
As informações da pegada hídrica já influenciam as decisões de consumo individual, em pequena escala, o que acredito ainda continuará acontecendo por um bom tempo, com crescimento orgânico do número de “adeptos”. Acho que minha opinião esta alinhada à do Ismael neste sentido, por fazer um paralelo interesse com produtos orgânicos, de comércio justo, ou outras modalidades sensíveis a questões socioambientais - a questão financeira continuará a ser um fator decisivo para a vasta maioria de consumidores individuais (ainda que o baixo preço da água no Brasil possa ajudar para que a diferença de preço entre os produtos não seja tão significativa).
Em minha opinião as maiores influências em um futuro próximo serão grandes empresas decidindo pelos seus fornecedores (a Unilever, por exemplo, já inclui o tema em seu plano de sustentabilidade -
http://www.unilever.com.br/Images/Plano%20de%20Sustentabilidade%20(baixa%20final)_tcm95-264170.pdf), grandes investidores criando fundos específicos para empresas de melhor “desempenho hídrico” (quem sabe pela inclusão do tema/aumento do peso na nota nos atuais índices de sustentabilidade) e governos incluindo o critério de maneira mais ampla em políticas públicas ou de maneira mais específica em suas licitações. Para tanto creio que surgirão mais entidades “certificadoras” de pegada hídrica, a fim de embasar tais decisões - o processo de contabilização é bastante complexo e pode vir a significar o maior custo do processo como um todo (novamente o fato da água ser tão barata no Brasil contribuindo).
Sobre as hipóteses para Guiana e Argentina, creio que no último caso a produção e consumo de carne possam ser uma parte importante da equação (além da importância de outros commodities agrícolas em sua economia). No caso da Guiana, acho que sigo o Alan na mineração como elemento chave da equação. E apesar de não achar que mecanismos de “cap and trade” sejam compatíveis para a aplicação na pegada hídrica, acredito que devam ser reforçada a utilização de mecanismos de mercado para melhorar o “comportamento sustentável” de organizações de todos os setores. Os índices de sustentabilidade nas bolsas de valores pelo mundo afora são um bom exemplo.
Abs,

Camila - quinta, 29 março 2012

Concordo com as colocações do Ismael. Não acho que possamos colocar a "culpa" na questão do lucro, do interesse, ou do modelo capitalista. Acho sim que a busca pelo lucro à qualquer preço é o que acaba causando problemas sociais e ambientais. É ai que entra o pensamento sustentável.
Especificamente em relação à pegada hídrica, concordo com o que os colegas falaram, e penso que pode, sim, influenciar os consumidores no processo de compra. Mas não acho que isso vai acontecer de uma vez só, e imediatamente. Na realidade, as pessoas (em geral) ainda não se preocupam porque não tem conhecimento suficiente. Elas não entendem o impacto final que isso pode ter. Por que alguém pagaria mais caro por um produto eco-friendly se não entende a importância que isso pode ter para o planeta e para um desenvolvimento mais sustentável?
Por isso é importante estudar tudo isso. E também divulgar esse tipo de informação, a fim de conscientizar a sociedade. É um processo.
Por fim, em relação aos "créditos hídricos", não sei se seria a melhor solução, mas fica então uma questão a ser estudada: se essa não é, qual poderia ser?
Até daqui a pouco na aula!

Fernando - quarta, 16 maio 2012

Com participação de astronauta, relatório mostra que 'pegada' do Brasil supera a da China e a da Índia
http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/1091068-com-participacao-de-astronauta-relatorio-mostra-que-pegada-do-brasil-supera-a-da-china-e-a-da-india.shtml

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